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inscrito na 18ª Mostra Brasil Aqui Tem SUS

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Dados do Projeto

Sala de Apresentação

Sala 4 - Águas Quentes

Modalidade

1

Temática

1

Estado

Amapá

Cidade

Macapá

Descrição da experiência - resumo do projeto

Título Experiência:

SAÚDE MENTAL ITINERANTE: PONTE ENTRE RIOS, FLORESTAS E EQUIDADE EM SAÚDE MENTAL.

Apresentação/Introdução:

O município de Macapá - AP possui oito distritos que configuram sua zona rural, sendo: Bailique, Carapanatuba, São Joaquim do Pacuí, Maruanum, Coração, Pedreira, Santa Luzia do Pacuí e Fazendinha que se compõem por diversas comunidades. Uma característica comum a todos é a dificuldade no acesso à área urbana e aos dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial. Observou-se que, devido a vulnerabilidade psicossocial e/ou repercussões psicológicas da pandemia de COVID-19, houve aumento de manifestação de sofrimento psíquico e recorrentes solicitações por profissionais de Psicologia para a atuação naquelas localidades. Diante disso, percebeu-se a necessidade do desenvolvimento de estratégias territorializadas de manejo visando mitigar adoecimentos e fomentar a produção de saúde mental (SM). Nesse contexto, foi iniciado em agosto de 2022, o projeto Saúde Mental Itinerante no município de Macapá. O termo itinerante é devido este ser um serviço que percorre o território com o objetivo de garantir o direito do acesso ao cuidado em saúde mental nos distritos localizados na área rural, considerando as peculiaridades territoriais, assim como as práticas de promoção de saúde mental já existentes naquele local. O projeto tem como público alvo prioritário a população agricultora, ribeirinha, quilombola, extrativista, residentes nessas localidades.

Objetivos

Objetivo geral: Garantir acesso ao cuidado em saúde mental nos distritos da zona rural do município de Macapá - AP. Objetivos específicos: ⮚ Garantir a equidade no acesso ao cuidado em saúde mental conforme princípio do SUS ⮚ Fortalecer iniciativas comunitárias de promoção de saúde mental ⮚ Viabilizar acesso a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Metodologia

O Departamento de Saúde Mental elabora o cronograma de atividades em conjunto com as equipes de saúde de referência dos distritos, vinculadas à coordenação da ESF,e em parceria com demais departamentos da Coordenação de Atenção Básica em Saúde, e outras secretarias se necessário, visando atuação intersetorial. Inicialmente, duas psicólogas realizam atendimento individual e/ou grupal, visita domiciliar e/ou técnica, rodas de conversa, orientação familiar, educação em SM, escuta breve, observação e matriciamento em SM, entre outras intervenções necessárias. Faz-se uso de tecnologias leves (acolhimento, autonomização, escuta, vínculo e diálogo) e leve-dura (conhecimento técnico científico específico). As equipes de saúde identificam possíveis demandas ou estas surgem espontaneamente. O deslocamento ocorre por via terrestre e/ou fluvial, a depender da localização geográfica do distrito. Aqueles cujo acesso se dá através dos rios, tem a maré como agente ativo na organização das ações, pois determina o horário propício para saída e retorno da equipe, e impede ou viabiliza a presença do usuário nos serviços de saúde. As ações são realizadas nas UBS’s, em espaços cedidos por escolas, igrejas ou centros comunitários. Quando não se tem um espaço específico, improvisa-se um local onde a escuta segura seja garantida, transformando-se assim em setting terapêutico, realizando a intervenção embaixo de árvores, à beira do rio ou em qualquer outro local que permita um encontro significativo.

Resultados

O projeto iniciou em agosto de 2022, totalizando até o momento 186 atendimentos. Com intervenções em Tracajatuba I, São Tomé do Pacuí, Corre Água, Carapanatuba, Ipixuna Miranda, Maruanum II, São José do Pirativa, São Sebastião do Pirativa, Curiaú, Abacate da Pedreira, Santo Antônio da Pedreira, Lontra da Pedreira, Ariri, Cachoeira, Bailique e Tessalônica. O contato com o território permite a elaboração de estratégias de cuidado específicas para cada população. Entre as demandas identificadas e manejadas, cita-se: solicitação de avaliação diagnóstica e acompanhamento infantil devido presença de traços e/ou diagnóstico de TEA, TDAH e Transtornos de Aprendizagem. Em adolescentes e adultos identificou-se a prevalência de sintomas ansiosos e/ou depressivos em diferentes níveis (leve, moderado e grave), comportamento suicida, sintomas ansiosos e/ou depressivos relacionados a pandemia de COVID-19, sintomas ansiosos e/ou depressivos relacionados a sofrimento ético-político-afetivo, derivados de marcadores psicossociais (raça, gênero, classe) e/ou alterações no ambiente natural. Observou-se crescente interesse pelo cuidado em saúde mental a partir da alta procura por atendimento individual ou grupal, baixa resistência às propostas interventivas, abertura das equipes de saúde locais para discussão acerca de adoecimento psíquico e demandas comuns cujo manejo é propício através do fortalecimento de práticas comunitárias de promoção de saúde mental territorializadas.

Conclusoes

A partir do exposto, torna-se relevante a manutenção e ampliação do projeto com o aumento do quantitativo profissional e a garantia de recursos para deslocamento, pois assim se assegura a assistência à saúde mental (SM) na zona rural, efetivando os princípios do SUS. Evidencia-se que, apesar das dificuldades territoriais, torna-se possível a realização do referido projeto, construindo ações de cuidado nos territórios líquidos. Percebemos que, em curto prazo, algumas demandas foram atendidas, entretanto vislumbra-se como prioritário o cuidado com a SM dos povos das águas, dos rios e das florestas, para que em longo prazo essas ações se perpetuem como políticas públicas da SM macapaense. O referido programa pode ser percebido como análogo às pontes existentes nas regiões por onde passou. Em síntese, no meio rural as pontes são as principais vias que permitem o contato entre as comunidades e os profissionais de saúde, neste sentido elas abrem os caminhos da Amazônia para estratégias de cuidado em SM. As pontes e os rios propiciam percursos únicos, que nos colocam perto do que há de mais plural no campo da SM na Amazônia. Somente um olhar sensível ao outro permite construir tecnologias de cuidado, respeitando o território amazônico.